quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Crise Econômica

Já foi batizada de crise do mercado financeiro, crise da subprime, crise econômica mundial, tsunami e até de marolinha. Dizem que teve seu epicentro nos Estados Unidos, mais precisamente no mercado de crédito imobiliário, e que rapidamente se expandiu para o mundo todo por causa da globalização dos mercados.
Deixando de lado toda a tecnicidade econômica com que a crise é tratada, o que realmente ocorre nos diferentes segmentos da sociedade?
Tenho conversado com todo tipo de profissionais, de gente simples como trabalhadores da indústria e comércio, donas de casa e autônomos, até microempresários, executivos e consultores. De comum, todos têm lido ou ouvido muito a respeito da tal crise e de alguma forma procuram, em maior ou menor escala, se prevenir contra seus efeitos: economizando nos supérfluos, adiando compromissos financeiros e de investimento, e até mesmo procurando melhorar a qualidade de suas relações pessoais e profissionais, para se sentirem mais protegidos de eventuais rompimentos de contratos de trabalho, entre outros problemas.
Na semana passada, num intervalo involuntário de meus trabalhos profissionais, provavelmente em função da crise, resolvi aceitar o convite de um amigo para pescar tucunaré. Durante os dias que passei à beira do rio, ampliei minha pesquisa e puxei o assunto com o nosso piloteiro e também com o nosso provedor de iscas vivas. Eles não têm a menor idéia de que existe uma crise e nem sabem o que é uma crise econômica. Afirmam que continuam tendo clientes, que todos são bons pagadores, que os peixes estão lá e que, graças ao bom Deus, os cardumes de tucunarés estão aumentando, e que o preço dos lambaris vivos continua o mesmo: R$ 0,45 por unidade (o que não é barato).
Retomando minhas atividades, que no momento se restringem à prospecção (consultoria e treinamento, minhas especialidades, estão entre os primeiros custos cortados em épocas de crise), recebi uma carta de meu banco comunicando, unilateralmente, que meu limite de crédito fora reduzido de R$ 50.000,00 para R$ 3.000,00. Fiquei surpreso, pois nunca havia pedido limite de crédito para este banco e, mesmo tendo sido presenteado com este limite, nunca o utilizei em todos os meus anos de conta. Aí percebi que grande atitude de prevenção contra a crise alguém, que deve ganhar muito bem neste banco para pensar em soluções, acabou tomando.
Recebi a ligação de um empresário, meu amigo e cliente, querendo saber um pouco mais sobre a crise e os impactos dela em seu negócio; ele possui uma pavimentadora, e seus principais clientes são prefeituras. Ele me informou que estava muito preocupado com o que estava lendo e ouvindo na mídia e que já não acreditava mais na marolinha do presidente Lula, que, por incrível que pareça, naquele mesmo momento estava batendo recorde de popularidade e de avaliação positiva em seu governo.
Perguntei ao meu amigo se ele havia tomado alguma providência a respeito, e a resposta foi que havia demitido cinco funcionários (que já estavam na marca do pênalti), alegando como motivo os efeitos da crise.
Perguntei a ele que efeitos já estava sentindo, e a resposta foi que, por enquanto, nenhum, mas que estava se prevenindo.
Um outro cliente, que possui uma empresa de negócios e consultoria imobiliária, e que há pouco havia expandido sua atuação, aproveitando o “boom” do segmento com a inauguração de 17 lojas em diferentes regiões, acaba de me informar que já fechou 15 das novas lojas por absoluta falta de negócios. Os bancos, que até o momento estavam altamente empenhados em conceder crédito para o segmento, pisaram no freio, e a torneira fechou de forma indiscriminada. Ele está arcando com um enorme prejuízo em função dos investimentos para as novas instalações, e no momento não pode contar com o crédito bancário que, há alguns meses, era-lhe constantemente ofertado.
Por incrível que pareça, o governo, altamente preocupado com os efeitos da crise, principalmente com o desemprego, pede aos bancos que reduzam as taxas de juros, e apontam para este caminho com corte na taxa básica de juros anunciado na última reunião do Copom. O presidente pediu para os bancos públicos darem o exemplo e baixarem os juros, e estes obedeceram; porém o presidente não disse quanto deveriam baixar, e os bancos baixaram alguns números na casa centesimal da taxa anual, que continua disparadamente a maior taxa real de juros do planeta – pois nossos banqueiros têm de continuar obtendo um retorno sobre o patrimônio líquido anual de, ao menos, 30%, que no mínimo é indecente para uma economia como a nossa.
O governo, por sua vez, anuncia recorde sobre recorde no superávit primário (diferença entre a arrecadação do governo e os gastos correntes, menos os juros da dívida), e seu marketing, que realmente é muito bom, tenta convencer a opinião pública de que o governo está economizando a ponto de poder investir sua poupança em fundos soberanos.
Na realidade o custo direto com a máquina governamental cresceu 12% no mesmo período deste fantástico superávit, ou seja, o governo não economizou nada, ao contrário, mesmo em momento de crise continua jogando dinheiro pela janela. Quanto ao superávit primário, foi obtido por meio da maior carga tributária do mundo, algo em torno de 38% de tudo que é consumido e produzido neste país, a ponto de inviabilizar qualquer iniciativa de investimentos produtivos em nossa economia.
Eis que surge Obama, o salvador da pátria, ou ao menos o bode expiatório, o telhado de vidro. Salvador de que pátria? Será que ao menos conseguirá minimizar os problemas econômicos de seu país? Certamente conseguirá, principalmente se ouvir atentamente os conselhos que nosso economista Luiz Inácio Lula da Silva tem lhe dado.
Para não ficar mais irritado, paro por aqui.